segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Conhecendo a Argentina e para além das fronteiras do Brasil



Nos primeiros dias, a curiosidade de criança foi maior do que qualquer outro sentimento e a fala daquele homem estranho não foi nenhum impedimento.
Quer dizer, não foi para a gente, porque a gente perguntava a toda hora o que é que ele estava dizendo para podermos entender aquele falar enrolado. Acostumados com as séries dubladas da televisão brasileira, a língua espanhola nos era totalmente estranha.

Estranha e fascinante.

Ele falava coisas sobre uma montanha linda e branca, cheia de neve, que ele subira com amigos e que exigia muito esforço e treinamento para chegar lá. Tratava-se de um tal de Pico do Monte Aconcágua, no meio de uma tal de Cordilheira dos Andes, lá naquela tal de Argentina.
O Marcus ouvia fascinado cada detalhe da aquela aventura e, ainda por cima contada por alguém que esteve lá. O Egídio contava empolgado sobre o ar rarefeito e gelado das alturas da Cordilheira dos Andes. Falava e demonstrava com as roupas mais grossas para frio que jamais havíamos visto antes. Falou sobre expedições de alpinistas e acampamentos em barracas especiais nos topos de neve eterna do Oeste do país.

Ele trazia a geografia no peito e dividia com a gente, cada detalhe empolgante, cada vivência daquele que, segundo ele, era o pico mais alto da América do Sul e a maior montanha fora da Ásia. O Marcus foi presenteado com um incrível cuecão de alpinista que era melhor do que qualquer pijama que se usasse por baixo da calça para esquentar no inverno! E, também, com uma camiseta de mangas longas branca que aquecia de verdade e transformava meu irmão de oito anos em um grande explorador das montanhas do mundo. (Aliás, tenho certeza de que essas roupas estão guardadas nas coisas pessoais do Marcus até hoje)

Pessoalmente, com cinco anos de idade, achei muito legal enfrentar a neve, já que era permitido – e recomendável – que se tivesse várias barras de chocolate na bagagem e nos bolsos. Qualquer aventura que tivesse chocolate liberado – sem ser no dia do aniversário – afinal, não podia ser tão ruim assim, na minha opinião.

Nos dias de hoje, qualquer piá sairia de fininho para acessar o Google, a página da Wikipédia ou qualquer outro saite de busca, podendo, em segundos, ilustrar a sua curiosidade com fotos, as mais interessantes.

Não era o nosso caso. Nosso único conhecimento daquela coisa sobre a qual ele falava era o próprio relato da coisa, com seus detalhes e com suas fotos e mapas, seus desenhos e cicatrizes.

Então, subitamente, mais do que o cientista, pai do Johnny Quest do desenho da TV, e mais do que o Jacques Costeau, que estava sempre no fundo do mar, o Egídio passou a ser a pessoa mais letrada com quem já tivéramos contato na vida. Tornou-se nosso cientista e consultor e nos acostumamos a levar para ele as nossas histórias e dúvidas no final do dia, para saber qual seria a sua opinião sobre todas as coisas.

O Marcus, especialmente, entrou de cabeça nesta história. Passava horas e horas conversando com o Egídio, fazendo perguntas, ouvindo essas histórias sobre o mundo, sobre uma tal de política, um dito regime militar e uma malvada de uma ditadura que, segundo ele, tinha expulsado ele de casa. “E a tua mãe?” A gente perguntava. “Como assim, teu pai morreu?” e outras coisas parecidas que ele respondia – sempre, sempre com muita paciência com os piás Marcus e Cristina.


Continua na próxima postagem.
Fonte da foto: Aconcagua

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

E a Argentina invadiu o Brasil

A Argentina invadiu o Brasil.


Não sei bem como ou quando ocorreu, mas acho que foi no inverno de 1974. Não foi de uma maneira bélica, nem sangrenta. Não eram exércitos armados, nem homens uniformizados.

Foi um homem, apenas um. E ele nunca mais foi embora.

Um belo dia daquele ano (que tanto pode ter sido em 1975 ou em 76), a Vera Regina Pinheiro trouxe pela mão um amigo. Amigo estrangeiro. Mais do que isso, de um país chamado “Argentina”. Ele falava diferente e insistia em elogiar aquele lugar desconhecido de todos.

Para clarear a história: a Vera Regina era uma das três filhas da Vó Ecilda (irmã da Lena, minha mãe, e também, minha madrinha), a única que ainda morava com os pais.

O seu Joventino (Vô Tinto), vocês sabem aqui pelo blog (http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/05/o-comeco-de-tudo.html) não permitia liberdades com as filhas dele, não.
Então, certamente, a invasão argentina deveria vir por algum outro território que não fosse o da casa da Vera.
E assim foi.

A luz da Vera Regina

Primeiro, necessitamos contar aqui a trajetória da Vera Regina http://marcusfeiodelemos.blogspot.com.br/2011/08/vera-regina.html) que, desde os 9 tenros anos demonstrava uma capacidade mediúnica incontestável, um verdadeiro talento nato para visões incríveis, de um mundo desconhecido para todos ao redor: o do plano espiritual.
A partir de muito cedo a Vera iniciou a contar a história de um jeito muito particular, permeado de participações que, por mais que quiséssemos, não podíamos enxergar.

Quando a Vera passou a freqüentar o Centro Espírita Paz e Amor e a estudar o Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, a vida dela alçou vôo.
Todos na família sabiam que a Vera Regina era médium (termo que vem do latim e significa “mediar”) e se comunicava com os espíritos. A Vera é médium vidente de primeira grandeza e uma trabalhadora mediúnica que executou muito bem os seus deveres na Paz & Amor durante mais de 30 anos da vida.

E, nessa Casa Espírita (que depois veio a ser a Sociedade Espírita de Paz e Amor), ela conheceu e foi conhecida por muita gente.

Uma das pessoas que ela conheceu na Paz & Amor foi um pintor argentino, de passagem no Brasil com alguns de seus desenhos, rumo a Madri, na Espanha. Os anos eram duros e espinhosos na ditadura militar do país vizinho, não eram propícios ao desenvolvimento da pintura e da sua arte por lá.

Já por aqui, a ditadura também plantava suas flores nefastas, mas a tirania aqui não se traduziu pela perseguição do mesmo número de pessoas que o regime militar ceifou na Argentina.

Nesse contexto, típico dos anos 70, a Vera Regina emprestava sua alegria, espontaneidade e leveza aos lugares por onde passava. Figura conceituada na Casa Espírita, ministrava cursos, aulas, aulinhas de evangelização e tudo o mais, sempre requisitada para orientar grupos de jovens, a participar de visitações e caravanas, etc.

Como amiga, a Vera me descreveu o momento em que conheceu o jovem pintor barbudo e argentino. Ela o descreveu para mim de forma bem pessoal e feminina: “eu vi que ele era machão, que era artista e que era aventureiro. Também vi que tinha uma loira dependurada nele e que não pretendia largar”, ela disse, e continuou: “Também vi que ele iria ser meu”.

Foi desse momento em diante, após serem apresentados, que eles passaram a se conhecer e a se amar.

Escolhido o território

Diante da amizade (e do amor) que crescia e dos momentos que (cada vez mais) passavam juntos, a Vera veio conversar com a Lena.

E num dia de inverno, o território da invasão foi escolhido: o argentino veio morar na nossa casa.
Não lembro muito bem como as coisas aconteceram, nem da primeira vez em que nos vimos. Sei apenas que o amigo da Vera, Egidio Benigno Villalba, veio morar na nossa casa, dividindo o teto com o Marcus e comigo - crianças -, com a Lena, com o Scooby e o Rusty, nossos dois guaipecas, na Rua Júlio Verne, 394, em Porto Alegre.

A primeira coisa marcante, além da fala e da barba, foi a bandeira.
Nós, crianças, que mal conhecíamos a bandeira do Brasil – e não a entendíamos – fomos apresentados ao azul celeste da bandeira argentina. E muito mais.

(continua na próxima postagem)

O Aramin


Quem conviveu alguns anos com o Marcus sabe que uma das marcas da personalidade dele era a capacidade de alimentar admirações secretas por pessoas. Ele trazia alguns segredos no peito.

Nunca falava abertamente, porém, algumas pessoas ele realmente admirava de maneira quase que icônica.

Uma dessas pessoas era o Aramin. Um menino que o Marcus conheceu na infância, na cidade de Santo Ângelo e fez parte do imaginário dele por toda a vida.

Pelo que lembro, puxando pela memória, o Aramin regulava de idade com o Marcus e morava no mesmo bairro, naquela cidade de terra vermelha, no início dos anos 70.

Ele era de uma família pobre, de tal maneira, que o Marcus ficou impressionado com a simplicidade em que viviam. Lembro que a Lena também comentou algumas vezes de coisas que eles viram e viveram no convívio com aquela família.

Especialmente, na minha memória de criança, ficou registrado que, por vezes, a família toda só possuía feijão para comer e que as roupas, bastante lavadas, eram poucas e simples. Lembro de que também não havia calçados e que, na época, como a casa em que morávamos era alugada na cidade, a sensação era a de que tínhamos demais, diante de tão pouco.

O Marcus memorizou algumas frases e algumas “saídas” do Aramin e passou a vida toda (mesmo) recitando, aqui e ali, aquela sabedoria de criança e de seu sofrimento infantil.

Ele guardava em si o sonho de voltar lá e buscar o Aramin, que havia muitas vezes manifestado o desejo de vir morar conosco e de sair de lá. Lembro até de uns comentários da Lena sobre a mãe dele até ter tido a vontade de “dá-lo” para a gente, para vir embora para Porto Alegre.

Passados 30 anos, lá por 2005 ou 2006, em uma conversa com o Marcus, lembro que perguntei pelo Aramin, já que a internet e as redes nos fazem achar (quase) todo mundo.

O Marcus ficou pensativo e disse que, depois de muitos anos passados, havia voltado até Santo Ângelo, com o endereço de memória (e que memória!) e procurou até encontrar a casa da família.

Sem surpresa, encontrou a família e localizou o Aramin, amigo querido de seu imaginário de infância.

Todavia, pelo que ele me passou, o carinho e a admiração que ele guardou por tantos anos – como aconteceu muitas vezes com o Marcus – não foi entendido do lado de lá.

Assim, por forças conjunturais da sociedade e da desigual luta de classes, o menino pobre que ele havia conhecido, tornou-se um jovem remediado, que virou homem ressentido de tantas privações. Esse homem não entendia o porquê daquele contato de um homem”rico”, a não ser que pudesse auferir alguma coisa.

O Marcus, bastante decepcionado, não demonstrou ao antigo menino o que o seu coração guardava e, pelo que ele deu a entender, nunca mais procurou o seu melhor amigo.







segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cebola? Sim! Couve-flor, nunca mais


Vai uma couve-flor aí, Marcus?
Foto: Cristina Lemos
Difícil de explicar a paixão do Marcus pela cebola. Não sei quando começou, mas cebolas cruas eram sempre bem-vindas! Acompanhando qualquer refeição e, principalmente, nos lanches também.
Aliás, tenho convicção de que a estatística de refeições na vida do Marcus foram de lanches em número muito maior do que de refeições regulares.
E, cá entre nós, de refeições balanceadas, então, a estatística deve cair lá em baixo, dados o paladar dele e o gosto por pão-com-alguma-coisa. Isso explica, em parte, a eterna luta da família contra a balança, não é?

Todavia, desde pequenos, fomos apresentados a todos os tipos de verduras, legumes e a todas as frutas das estações disponíveis no Rio Grande do Sul. Graças a isso, aprendemos a comer de tudo, de diversas formas.

Assim, não posso deixar de lembrar - sempre - do Marcus, a cada vez que corto uma cebola para dar início a algum prato na cozinha (pessoalmente, não sei cozinhar sem cebola). Lembro da cara dele entrando na cozinha, enfiando descaradamente as mãos (sujas, óbviamente) na tábua de carne e encher com um punhado de cebola picada, levando direto à boca, num gesto tão rápido quanto possível!
Isso tudo a despeito dos protestos da Lena, ou de quem mais estivesse nas cozinhas da vida do Marcus.

Vou contar para vocês hoje que essa mania do Marcus de entrar na cozinha e roubar o que estivesse disponível (provavelmente esteja no DNA dos Pinheiro e Feio de Lemos, como vou contar em outras postagens), vem desde pequeno. Vejamos:

Contava a Lena que, enquanto a família morava na Travessa Jaguarão, ali no IAPI, ela costumava fazer em casa algumas conservas de alimentos: pepino, cebolinhas, couve-flor, etc. Claro que não havia supermercados e hipermercados como os que existem hoje, com farta oferta marcas de conservas, de picles e, o que era definitivo: não havia dinheiro para comprar tais especiarias.

Numa manhã daquelas, com o Marcus ainda pequeno - acho que por volta dos 5 ou 6 anos de idade -brincando na sala, ela ficou horas na cozinha, preparando o que deveria ser um (ou mais) vidro grande de couve-flor em conserva. Ao terminar o processo de cozimento, ela deixou toda a couve-flor cozida, mergulhada já no caldo de vinagre e temperos, dentro de uma vasilha grande, sobre a mesinha da sala, para que esfriasse aos poucos, até que pudessem ser acondicionadas nos vidros e fechadas devidamente para que a família pudesse consumir com o tempo.

Claro que, depois disso, ela retornou para a cozinha, para terminar algumas outras coisas, das tantas que ela fazia durante o dia, com duas crianças pequenas e a casa para cuidar.

O Marcus, brincando na sala, ficou sozinho com aquilo que cheirava tão bem. Quem conheceu o Marcus e sentou com ele à mesa, sabe que ele gostava de comidas mais fortes. Naquele dia, ele resolveu provar um pedacinho do que estava naquele prato grande. Provou.
Continuou brincando na sala e o gosto se espalhou pela boca. Ele gostou do sabor e pegou mais um pedaço. E outro, e mais outro. Continuou assim, brincando e se servindo durante um tempo. Colocava a mãozinha dentro do caldo e pegava uma florzinha da couve-flor, depois mais uma, e chupava os dedos.

Ao final, quando não havia mais NENHUMA florzinha no pote, ele tornou a brincar, tranquilamente. Quando a mãe retornou da cozinha para buscar o prato e terminar o que havia começado, olhou para o prato, para o Marcus e perguntou assustada:
- "Marcus, tu viu o que a eu deixei aqui em cima da mesinha?"
- "Vi" - ele respondeu, simplesmente.
- "Marcus, onde é que tá o que tinha dentro do prato?"
- "Mãe, tava tão bom... eu comi!"
- "Marcus, tu comeu TUDO o que tava dentro do prato?"
- "Comi" - respondeu o Marcus, agora já se perguntando o porquê de tanto alvoroço em torno de umas florzinhas com gosto de vinagre...

Sem poder fazer mais nada, a Lena se consolou e ficou muito admirada com aquele guri. Observou o Marcus por toda a tarde, até o início da noite. Foi aí que o caldo entornou: ele começou a reclamar que doía a barriga e passou muito, muito mal. Tão mal que praticamente não dormiu, vomitando quase a noite inteira todo aquele "lanchinho" indevido...

A partir do dia seguinte e daí para toda a sua vida, o Marcus não colocou nenhuma outra florzinha da couve-flor na boca, nem em casa. Mais do que isso: quando via uma couve-flor, especialmente quando o sentia o cheiro característico dela cozinhando, ele tinha ânsias de vômito.

Claro que, sabendo disso e sendo a irmã mais nova e gostando - bastante - de couve-flor, eu, de vez em quando, só para implicar, colocava uma no meu prato e perguntava, bem querida: "Quer um pedaço de couve-flor aí, Marcus?"

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A primeira pescaria


Traíra
O Marcus tinha por volta dos 12-13 anos, no início da puberdade e da adolescência. Foi convidado por um colega de trabalho da Maria Helena, o Sr. Orandir de Vargas, para ir com ele e uns amigos pescar em Cachoeira do Sul, onde residiam os familiares de sua esposa, Aibonez.
O Vargas, como era conhecido lá em casa, levou aquele gurizão inexperiente para aquilo que seria um marco divisor de águas na vida dele.
Segundo o que o Vargas - e o próprio Marcus - contavam entre risadas, a história da primeira pescaria foi mais ou menos assim:
O grupo contava, além do Vargas e do Marcus, com um cunhado dele (irmão da Aibonez), um amigo do Vargas, também adolescente, o Dunga (André) e mais um ou duas pessoas de lá.
Chegando lá, após as apresentações e formalidades, o grupo seguiu até a beira do Rio Jacuí, para dar início aos preparativos para a pescaria.
O objetivo era a pesca recreativa, mas, diferente dos anos que se seguiram, todo o peixe porventura pescado, era para ser limpo, dividido, preparado e levado para casa para comer, como verdadeiros troféus.
A expectativa era de se pescar traíras, carás, jundiás, piavas e outros peixes de água doce, abundantes na região.
O destaque aqui vai para a isca utilizada: minhoca. Minhocas nativas, gordinhas, rechonchudas, diretamente da terra para o anzol.
A noite já ia alta quando, após algum tempo de espera, após as lições de uso do caniço, do molinete, do manejo do anzol, das bóias e chumbadas, o Marcus precisou de reposição das iscas nos anzóis.
Pediu, esperou, recebeu o saco de minhocas para usar.
E ele ficou sabendo que a minhoca era muito pesada para ficar no anzol e não cair no lançamento de volta na água.
Foi então que ele, inocentemente, sem saber que esse gesto seria alvo de muita gozação pela vida afora, perguntou: "Cadê a faca para cortar a minhoca???".


A homarada repicou, entre risos, que a única solução era mesmo largar o nojo natural de guri da cidade e rasgar a minhoca com a mão, mesmo...

O Marcus, lógico, venceu o nojo e acostumou a mão. Virou essa que seria a primeira noite na beira do rio, ao lado do caniço.
Essa noite e infinitas outras ao longo da vida, praticando a sua arte preferida: A PESCA.

Foto: http://www.pescacomaventura.com.br/2011/03/aprenda-limpar-trairas.html e http://thehistoriador.blogspot.com.br/2011/09/os-9-trabalhos-mais-estranhos-e.html

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Alegrias com a família do Léo e Maria do Carmo Dalcin

Lena e Shana Natasha Dalcin no aniversário de 15 anos

Marcus e a Namorada Denise, SP, com a Shana
Após a falência da Metalúrgica Aço Técnica, nos anos 70, a Maria Helena precisou sair em busca de novas oportunidades.
Um dos colegas que ela conheceu na Metalúrgica, o Senhor Orandir de Vargas, passou a trabalhar em uma outra empresa, a LIDEROIL DO BRASIL, de "re-refino" de óleo, com sede em Gravataí e, na época, na Rua 7 de Abril, em Porto Alegre.

A Lena então foi trabalhar no Distrito Industrial de Gravataí, e, depois, veio para a sede da Rua Santos Dumont, perto da Rua do Parque.
Esse blog vai contar algumas experiências acontecidas na LIDEROIL e as muitas amizades que de lá vieram.
Uma delas, que esse blog homenageia nesta postagem, é a Maria do Carmo Dalcin e o Léo Antonio Dalcin, grandes amigos da Lena e cuja amizade se iniciou devido à relação dentro do trabalho. Ainda lembro quando esta amizade começou e de uma visita ao Centro de Canoas para visitá-los.
Naquele sábado ao meio-dia, o Léo nos presenteou com um churrasquinho assado na área de serviço do apê e nunca esqueci do incrível sabor daquela que seria a primeira vez que saborearia corações de galinha assados na brasa...
As fotos são da festa de comemoração dos 15 anos da primeira filha do casal, Shana Natasha Dalcin, linda, esplendorosa e feliz naquela data.
Pode-se ver, também, o Marcus com um sorriso disfarçado, ao lado da aniversariante, com uma de suas namoradas. Elas eram vindas de todos os lugares - via internet. A da foto é a Denise, diretamente da Baixada Santista.

Abraço Maria do Carmo e Léo Dalcin. Esse blog saúda esses amigos que muitas vezes, ajudaram silenciosamente a Lena a tocar a vida e a família, com todas as formas de apoio.

sábado, 28 de abril de 2012

Mário Feio de Lemos, Histórias da Juventude e a Lena no hospital


Antonio William Cidrão Assis, amigo do Mário Feio de Lemos na juventude, em Fortaleza
Foto: Cristina Lemos
Tarde do dia 28 de junho de 2007. Por um capricho do destino, a mãe do Marcus (e minha) havia dado início a um tratamento contra o câncer que se formara no cérebro com uma cirurgia, no dia 05 de junho.
Os riscos de sucesso eram tão grandes quanto os de fracasso e tanto ela como nós, apostamos no sucesso. Deus não quis dessa forma e, talvez por erro médico, talvez por mão do destino, a Maria Helena Feio de Lemos entrou para o bloco cirúrgico às 6 horas da manhã e teve sérias complicações decorrentes da cirurgia.

A Lena ficou em tratamento, na UTI, desde o dia 05 de junho e lá permaneceu por 60 dias, até ser desligada do corpo físico, em 29 de julho de 2007.
Eis o por quê de essa data, dia 28 de junho de 2007, ter marcado tanto para mim.
Tratava-se do dia das eleições para a direção do sindicato do qual eu faço parte (Sintrajufe-RS) e, tratava-se, por isso, do único dia em todo o período de estada da Lena na UTI do Hospital Mãe de Deus, em que eu não estive presente em todas as 3 visitas permitidas aos familiares (30 minutos pela manhã, 30 pela tarde e 30 à noite).
Isso não é fácil de se esquecer, não é? Em todos esses dias, em todas essas manhãs, tardes e noites, o Marcus foi religiosamente até a ante-sala da UTI do HMD e me esperava para que entrássemos juntos - apenas dois familiares - para a cabeceira da Lena conversar com ela um pouquinho.

Por isso, amigos que nos acompanham, não esqueço que, após muitos anos de trabalho na Justiça, houve grande surpresa quando esse colega de longa data, Antonio William Cidrão Guedes, me perguntou se acaso eu conhecia o "Mário Feio de Lemos". "Meu pai", respondi.

Dali em diante tive a grata surpresa de escutar histórias incríveis sobre a juventude e a adolescência do Mário, coisas absolutamente novas para a gente, que nunca tivemos contato com a família e os amigos dele que moravam no Norte e no Nordeste do país.

Esse blog vai relatar algumas histórias bastante engraçadas que chegaram ao meu conhecimento sobre a vida pregressa do pai, até então desconhecida por nós.

sexta-feira, 23 de março de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Joventino Pinheiro e amigos


Vô Tinto, o segundo da esquerda para a direita

Chevette, o Primeiro carro do Marcus

Marcus posa feliz com o carro, casa do Tio Raul, Caxias do Sul
Quando o Marcus comparceu à entrevista no laboratório e seguiu todas as regras previstas para passar nos testes impostos, além de comprar um terno às pressas e de a Lena lavar todas as noites a mesma e única camisa social para o trabalho no dia seguinte, também teve de adquirir um carro, obviamente, sem reunir condições financeiras para isso.

Pouca gente sabe dessa fase da vida do Marcus, pois foram lutas silenciosas que ele e a Lena travaram juntos, acordando muito cedo(muito mesmo) e conversando sobre os passos que seriam dados.
Ao ser confirmada a vaga no Laboratório Aché, o Marcus seguiu pela Avenida Assis Brasil, naquela região do Sarandi onde há várias revendas de carros e - só Deus sabe como - encaminhou os papeis para o financiamento do Chevette.
Aliás, mais do que isso: após assinar o contrato com prestações que comprometiam quase todo o futuro salário, o Marcus embarcou no carro e dirigiu para casa.

Pode parecer uma coisa simples, só que o mais importante não foi dito: apesar de várias aulas com o Seu Breno (Breno Rabello, grande figura, nosso vizinho, amigo e fã do Marcus) e algumas no fusca da Rose, o Marcus não sabia dirigir. Nunca tinha saído sozinho e não tinha carteira de motorista!

Lembro daquele final de tarde, em que o carro jazia parado na frente da casa, na meia-lua em frente a nossa casa no IAPI e que os adultos andavam em volta do carro e davam batidas nas costas do Marcus, todos rindo muito da insólita situação.

Me vem à memória o Tio Saul e ele conversando. O Marcus contava que, quando bicou o carro na entrada do Seu Breno (nunca tivemos entrada para automóveis na nossa casa, como tinha sido previsto pelo Vô Tinto, trinta anos antes), sentia as costas encharcadas com o suor do nervosismo em dirigir sozinho no trânsito da Volta do Guerino. Numa daquelas brincadeiras de Pinheiro, o Tio perguntou se ele também não tinha sentido "as calças cheias" quando entrou em casa...
O Tio Saul perguntou a ele por que não havia telefonado, pedido ajuda e ele teria ido buscar o carro para ele, várias pessoas disseram isso. Ora, para quem conheceu o Marcus, ou a Maria Helena, sabe que pedir ajuda estava fora de questão. Seria declarar impotência, ou alguma sorte de incompetência, não é mesmo?  e isso nunca nos foi ensinado.

Claro que, no novo emprego, ninguém sabia disso. Se não me engano, foi também o Alexandre, nosso primo, que levou o carro até a Polícia de Trânsito, lá na Avenida Ipiranga, para poder, finalmente, tirar a carteira, cerca de um mês depois desse evento. Ou seja, o Marcus saía para trabalhar todos os dias, nunca faltou a nenhum ponto de encontro, 8:00 da manhã e 13:30 da tarde, ia com o carrinho e voltava todas as tardes, porém, a carteira que o autorizaria a rodar o dia inteiro, só veio cerca de um mês depois.

Foto: Pelo sorriso do Marcus, acho que a fotógrafa foi a Claudia Maria Pinheiro, nossa prima, ou a Lena, numa Kodak 126, a câmera da época.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A visita do Alexandre e a Indústria Farmacêutica

Nesse blog, vamos contar detalhadamente o grande salto profissional que foi a visita do Alexandre Ribeiro de Azevedo na nossa casa, numa noite fria de 1982.

Ele vinha trazendo na pasta a melhor notícia que o Marcus havia recebido até então: a de abertura de vagas para recrutamento na empresa da indústria farmacêutica que viria a mudar a vida dele a partir daquele momento.
O Alexandre era nosso primo, filho da Joan Ribeiro e grande amigo de todos nós, seguia a carreira do pai. Frequentava nossa casa e já demonstrava, naquele período, como se podia viver bem com um salário melhor.

Lembro que ele chegou empolgado, conversando com o Marcus sobre todos os detalhes da entrevista e de como seria importante isso e aquilo...
Alguns dias após, dentro do terno recém comprado à prestação nas Lojas Renner para a ocasião, e também dentro da única camisa, única gravata e único par de sapatos, o Marcus se apresentou para a entrevista de emprego no Laboratório Aché.

Como todas as coisas na vida do Marcus, não foi nada fácil. Na primeira entrevista, ele recebeu um folheto de propaganda de produtos da empresa, contendo cerca de 08 (oito) páginas, frente e verso, e a incumbência de decorar todo o texto até a próxima entrevista, agendada para dali a três ou quatro dias. Parece que havia um final de semana no meio e ele deveria se apresentar nas primeiras horas da segunda ou da terça.

Jamais esquecerei o que se passou a partir daí: o Marcus mal dormia, mal comia, não assistia tv e não saía de casa, passou a repetir para si mesmo, em voz alta, cada palavra do folheto, religiosamente, até que TUDO, TUDO MESMO estivesse absolutamente decorado e na ponta da língua.
Nenhuma de nós, nem eu nem a Lena fomos poupadas de pegar o papel e tomar dele muitas vezes cada trecho.
E, da forma mais impressionante, ele sabia, ao final do primeiro dia, cada pedacinho do que estava escrito naquele folder. As palavras em latim, nomes complicados de produtos farmacêuticos e substâncias ativas de medicamentos, reagentes, indicações, tudo. Ele sabia quando se abriria uma chave, um colchete, um parênteses.

Movido pela necessidade e pela determinação de conseguir a vaga, o Marcus nos emocionou a todos. Na verdade, me emociona até hoje lembrar daquele guri de 17 anos, quase fazendo 18, que se vestia de abrigo e tênis surrado... Ele se arrumava para ir trabalhar como auxiliar de escritório e vender lanche na empresa para aumentar uns trocados na nossa parca renda, se atirou de cabeça na oportunidade que apareceu.

O resultado foi que aquele momento foi um divisor de águas na vida dele. Os gerentes ficaram bastante impressionados com o desempenho dele e a vaga foi conquistada com todo o esforço possível!

A partir dali, ponto de encontro todos os dias, às 8(oito) horas da manhã, defronte ao Hospital de Cardiologia, na Avenida Princesa Isabel e ponto de encontro também à tarde agendado todos os dias pelo supervisor.
A partir dali passaram a chegar caixas e caixas da transportadora direto na nossa casa, as quais continham milhares de amostras para distribuição para os médicos(as), clínicas, hospitais.
A partir dali, era possível ver todos os dias o esforço pessoal do Marcus em modificar o temperamento e o gênio, sempre recluso e fechado, tornando-se um falante representante do Laboratório Aché.

E, para complementar, todas as noites era verificado pela Lena o terno e a calça do traje, todas as noites era lavada e passada a única camisa, para que no dia seguinte ele pudesse estar de novo impecável para se apresentar no novo emprego e diante dos médicos.
Foi assim até a chegada do primeiro salário, quando, finalmente, a grana deu para comprar mais algumas camisas e um colete... afinal, era inverno!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo! Viva a Bom Gosto!

No início dos anos 80, o Marcus deu a grande virada da vida dele. Trabalhava desde os 13 anos e estudava à noite (estas histórias, relacionadas ao início da vida profissional do Marcus, contaremos depois nesse blog).

Já havia concluído o segundo grau (era assim que se chamava o Ensino Médio)e pegava o ônibus todos os dias para cumprir expediente na empresa Pampa, Exportadora e Importadora, ali na Farrapos, quase esquina Sertório. Aliás, ele enchia a boa para dizer o nome da empresa, orgulhoso que era de trabalhar num lugar grande e luxuoso (para os nossos padrões).
Havia começado a se vestir melhor e a conviver com outros tipos de pessoas, na rotina do escritório. Foi nessa empresa que começou a ganhar os primeiros "tickets restaurante" para alimentação de que se teve notícia na nossa família.
Na época, eram "coupons" e, sinceramente, representavam muita grana para a gente.
A verdade era a de que ele fez um exame médico antes de ingressar na empresa e ficou sabendo que tinha um sopro no coração. a partir daí, passou a seguir alguns conselhos do cardiologista e deu início a uma das primeiras dietas de que me lembro na nossa família. Assim, a Lena cozinhava toda a comida dele, separava as saladas e frutas e montava a vianda que ele levava todas as manhãs.
Mas aí todo mundo pensa: e o Coupon Restaurante, cadê? Bem, como vocês que conheciam o Marcus devem imaginar, ele economizava bastante.
Segurava os tickets o mês todo e, ao final, juntava tudo e saíamos todos para jantar fora. Era uma verdadeira curtição em família.


Ah, nas viandas do Marcus que a Lena arrumava, lembro de um detalhe interessante, coisa de mãe, mesmo. Para que a salada de folhas frescas e tomate (sempre) não murchasse, a Lena fazia um molhinho com os temperos que ele gostava: sal, vinagre e azeite, colocava num tubinho pequeno (de remédio homeopático em bolinhas que sempre tinha lá em casa) e acondicionava bem no canto da vianda. Quando ele ia esquentar a comida e fazer a refeição, podia apenas sacudir e misturar os ingredientes e despejar na salada, recém-temperada, ao gosto dele. Legal, né? Desse jeito ele comia certo e a gente ainda podia comemorar no final do mês saindo todos juntos.

Foi a partir desse momento e daí para sempre, que o Marcus foi apresentado a restaurantes. O primeiro e mais duradouro, foi a churrascaria "Bom Gosto".
Desde a primeira refeição que o Marcus fez lá, numa festa de colegas da Pampa, ele não parou mais de retornar, como todo bom canceriano, fiel aos seus gostos.
Quem conviveu com o Marcus e teve a honra de ser convidado alguma vez por ele para ir jantar, pôde ver como ele cresceu e viveu como cliente vip daquela churrascaria, localizada na Rua Dr. João Inácio, 905 ou 917, Zona Norte de Porto Alegre.

Marcus na 6ª série

Marcus na escola, gordinho na época

domingo, 18 de dezembro de 2011

O primeiro Pinheirinho dos Pinheiro e um Natal cheio de Amor a todos e todas



Já que a época é de Natal, esse blog apresenta aqui a primeira árvore de Natal da casa dos Pinheiro, segundo memórias da Maria Helena. Ela contava orgulhosa que, assim que começou a trabalhar, comprou o pinheiro de Natal, enfeites e o presépio e deu de presente para a Vó.
Na foto, o pinheiro está montado em local de destaque, atrás da janela da sala da casa e fica ao fundo nas fotos da data, adornando a reunião da família Pinheiro no Natal de 1960.

Da esquerda para direita, dá para reconhecer a Vó Ecilda sentada de lado (logo atrás dela e bem na porta estão uma menina e uma outra pessoa que não sei quem são). Da porta para a direita estão o Iedo e a Maria Helena, namorados na época, o Renato e a Vó Saturna (Saturnina Flores, nossa Bisavó e bruxa, de quem esse blog contará algumas histórias oportunamente). Por fim, ao lado do Renato também tem um rosto de menino que não reconheço. Ao fundo a árvore enfeitada  e a mesa repleta de garrafas de champanhe mostram que a foto foi após a meia-noite do Natal de 1960, provavelmente tirada pelo Saul, fotógrafo da família.
Noite de Natal da família Pinheiro, 1960

O Blog do Marcus Feio de Lemos deixa aqui um grande abraço com espírito Natalino a toda a família Feio de Lemos, certamente existente em algum dos cantos do Brasil e de Portugal. Deixa também um abraço apertado a todos os Pinheiro, Flores, Silva, Kern, Dal Bosco, Menegat, etc. que compõem este clã e que, mais do que nunca, nesse período de festas e de confraternização, enviam de coração aberto muita luz, muita paz, amor e saudades ao Marcus e à Maria Helena, à Vó Ecilda, ao Vô Joventino, ao Saul, ao Raul e ao Sandro Pinheiro, nossos amigos queridos dessa e de outras passagens.
Feliz Natal a todos e todas.

Marcus presenteava com cartões de Natal



"Quando nos lembramos das flores,
Das ervas-daninhas nos esquecemos;
Quando nos lembramos das bênçãos,
Das necessidades nos esquecemos;
Quando nos lembramos dos risos,
Das lágrimas nos esquecemos;
Quando nos lembramos dos momentos felizes,
Do tempo nos esquecemos...

Feliz Natal! Venturoso Ano Novo!

São os votos de seu filho
Marcus F Lemos
Natal - 1977

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Feliz Aniversário, Renato Pinheiro!



Esse guri bonito sorrindo em frente à casa da família, na Avenida Assis Brasil, 911, no IAPI, é o Renato. Feliz e brincalhão, sempre anima quem está em volta e deixa saudade por onde passa. Aliás, já faz um tempo que queremos que ele passe por aqui, mas a coisa está difícil. Na foto, não parece ainda, porém esse menino é do mundo e adora a estrada.
Feliz Aniversário, tiozão amigo que marcou bastante a vida do Marcus.
Precisamos conversar para refrescar a memória e colocar algumas postagens de histórias bem cabeludas aqui no blog.
Por enquanto, meu querido, desejo(amos) um Feliz Aniversário e muita paz para esse coração agitado e sempre pronto a se (re)apaixonar!
Te amamos, eterno guri!
Porto Alegre, 18 de outubro de 2011.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Nossa Bisavó Menta, mãe do Vô Tinto

Bisavó "Menta" na frente de casa, em Caxias do Sul

























Em toda a vida de netos do Vô Tinto, jamais tivemos muito acesso às memórias da família em Caxias do Sul. Acredito que, quem mais saberia da história dos Pinheiro teria sido o (tio) Raul Pinheiro, o qual foi morar na cidade desde muito novo e por lá ficou.
Em alguns encontros de família e férias na casa do Tio Raul, que guardamos recordação com muito carinho por toda a vida, podíamos ouvir boas e bem-humoradas histórias do passado. Elas se referiam um passado não muito distante, mas que se perdeu pouco a pouco nas memórias dos mais velhos.

Recordo que o Tio Raul, na beira do fogão à lenha no frio inverno caxiense, contava fatos acontecidos na juventude do Vô e da Vó. Em razão de ter-se mudado para a cidade natal dos pais, não raras vezes ele encontrava pessoas que participaram da vida do pai e da mãe e contava cheios de detalhes os fatos sobre os quais ele tinha tido a oportunidade de saber mais.


Essa singela foto, acredito que tirada na casa dela em Caxias, é da nossa Bisavó Menta, revelada pela Casa Masson, em 1959. Dá para se ver que a paixão pelos cachorros, ou cuscos - como diria o Vô - é atávica. Há, inclusive, muitas histórias de cães da e na família que serão contadas nesse blog doravante.
Uma das coisas que ouvi nas conversas dos adultos da família é que a Bisavó Menta era descendente de indígenas, da tribo dos Bugres e que havia sido frequentadora da Igreja Católica. Lembro de ter ouvido, também (e me corrijam os mais velhos se vai aqui uma meia-verdade) que ela teria sido seduzida por um dos párocos, de nome Zito, e que este teria sido o início do clã dos Pinheiros.
Mas, para não cometer injustiças com os antepassados, esse blog vai buscar entrevistar alguns dos mais velhos para nos apresentar uma versão verossímil desses fatos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Casamento de Joventino e Ecilda, ou do Tinto e da Cidoca


Na dedicatória do Joventino para a mãe, Vó Menta, datada de 18 de abril de 1934, uma terça-feira, casaram-se o Tinto e a Cidoca, em Caxias do Sul.
Essa foto ficava em destaque, na parede da casa da Vó, na Av. Assis Brasil, onde esteve pendurada durante toda a infância dos filhos e dos netos.

Certa vez, com toda a inocência possível de criança, lembro de ter perguntado à vó se, além do Vô e dela, que estavam na foto e eu reconhecia (apesar da passagem dos anos) o menino que aparecia abaixo dos dois seria o Tio Raul... Lembro que a Vó fechou a cara, me dirigiu um olhar muito severo e disse veementemente que não, sem me dar maiores explicações.
Logicamente, eu demorei muitos anos até entender o quão ofendida ela havia ficado por eu ter insinuado que o primeiro filho poderia ter vindo antes do casamento...

Verso da foto do casamento do Vô Tinto e Vó Ecilda, 1934

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nasce o cachorro mais famoso da família Pinheiro: o BANZÉ


























Não esperem conhecer aqui apenas uma história de cachorro, pois o Banzé não era apenas um canino. Ele era o cachorro da Vó Ecilda, fazia parte da família Pinheiro e, após 1978, veio a fazer parte da família Feio de Lemos também.
Em fins de 1972, em Caxias do Sul, mais precisamente no porão da Rua Inocente de Carli, 1085, nascia um cachorro de pelo branquinho com duas manchas em forma de número oito no dorso e uma em um dos olhos. Tratava-se de mais uma das ninhadas da cadela (sem ofensa) Dorotéia e do Rusti, o casal de guaipecas do Tio Raul (Raul Pinheiro).

Os pais

A Téia era bem miúda e de cor preta, com “óculos” amarelos e rabo de toquinho. O Rusti era do Ricard (Ricardo Pinheiro) e deve ter ganho esse nome por causa do seriado Rim-Tim-Tim, cujo herói era um cachorro pastor alemão e pertencia a um guri chamado Rusty, umas das grandes paixões do Ricardo Pinheiro quando criança.
Lembro ter ouvido sempre dos adultos que as crias eram cruza de “ratoneiro” com um outro nome de raça, provavelmente uma não identificada. Mais tarde vim a saber que o “ratoneiro” não era nada mais, nada menos, do que o atual Dachsund, ou salsicha (linguicinha, etc.) como todo mundo chama hoje em dia.

As ninhadas na Casa da Tia Maria

Os cães da família eram todos importados da Serra Gaúcha. Nasciam e cresciam fortes, amamentados pela (Doro)Téia e embalados por todas as crianças presentes. A cada ninhada da cadelinha, corriam as crianças (Cláudia, Ricardo, Marcus e Cristina) para o porão a pegar os cachorrinhos no colo, sob vigilância da pequena mãezinha, que, mesmo com os olhos tristes, nunca sequer rosnou para nós. A gente passava o tempo que podia “socado”(na linguagem das mães) no porão, brincando com as crias. Dávamos nomes para cada um deles e tentávamos adivinhar como seriam quando crescessem.
Claro que essa alegria durava pouco, ou porque a Tia Maria (Maria Dirce Pinheiro) aparecia e nos convencia a largar cada uma daquelas coisinhas fofas, ou porque um dos tios surgia e – sem mais explicações – levava os filhotes para onde bem entendiam, à revelia da nossa vontade. Às vezes até abaixo de uma certa choradeira.
Aliás, um dos mais fortes argumentos que a Tia Maria utilizava para nos fazer largar os bichinhos era que eles não podiam ficar tanto tempo no colo. A causa? “Porque se não pesteia”. E se pestear, ela dizia, o bichinho morre. E quem das crianças queria que eles morressem???
Assim, convencidos e um pouco culpados, saíamos do porão daquela casa mágica, com um maravilhoso cheiro de cachorrinho novo e com algumas (nomeu caso, muitas)pulgas na roupa.

O Banzé



Em uma dessas ninhadas, veio o Banzé com seu rabo de toquinho, como a mãe, mas de cor diferente de todos os outros. Veio trazido em uma caixinha de sapato, no colo da Vera Regina, e, se bem me lembro, desceu a Serra na cabine de um dos caminhões da Rápido Girardi, direto para a Assis Brasil.
A Vó Ecilda criou o Banzé com bastante carinho e logo ele foi se adaptando à rotina da casa. Desde pequeno, era o companheiro dela. No início do dia, ele acordava na sala – o Banzé nunca dormiu na rua, como os demais cães que a família havia tido – e ficava sentado na porta do quarto da Vó e do Vô. Ali ele permanecia, de olhos fixos na Vó e no movimento repetido de suas mãos, que rezavam o terço a cada manhã. Ao final da última conta, ele corria feliz para receber o bom dia da Vó, que sempre vinha após a oração.

O Banzé foi o cachorro mais bem educado que já conheci. “Pedia” com um chorinho baixo para sair e fazer as necessidades na rua e batia com a pata na porta dos fundos para entrar de volta na casa. Inverno o verão, a rotina era essa.
Ah, não vou encerrar sem contar o banho, ensinado pela Vera com o ritual seguido à risca até a velhice do “Die do Banza” como ele foi apelidado. Ela chamava o cachorro para o banheiro (sim, o banheiro), abria a cortina do box e dizia: “Banho, Banzé”. Ele murchava as orelhas, se encolhia um pouco e andava até a muretinha. Ali ele dava uma paradinha, verificava se ninguém havia mudado de ideia e aí pulava para dentro do box. A Vera passava sabonete (de gente) nas mãos (ou xampu, ou o que tivesse por ali de mais cheiroso) e ensaboava o coitado do cachorro repetidas vezes. Na última, ela dirigia o jato do chuveirinho em todo o corpo dele e enxaguava bem, até que ele ficasse bem branquinho, todo pingando. Então ela se punha de pé, conversando com ele para que ele não se sacudisse violentamente, atirando água para todos os lados, da mesma forma que fazem todos os cachorros. Fechava a cortina do box, dizendo: “Agora pode, Banzé, agora deu”. Para a alegria da gente que adorava o banho do cachorro e ficava cuidando cada movimento, o Banzé se sacudia várias vezes, saía de lá mais sequinho. Com sorte, eu podia também ajudar a secar, o que significava pegar a toalha (dele, bem limpinha) e ficar um tempo com ele no colo, devidamente autorizado, fazendo bastante carinho.
Como o Banzé acompanhou a família durante mais de 15 anos e mora no coração de muita gente, voltaremos a ele algumas vezes nesse blog.

Foto: Marcus com o Banzé filhote no colo, em frente à vitrine decorada para crianças das Lojas Renner do Passo D'Areia.

Juarez, amigo e Fotógrafo, trouxe a fotografia para a vida do Marcus




Um dos fatos que vieram a marcar definitivamente as vidas da comunidade foi a abertura da ACM – Associação Cristã de Moços, ali, bem pertinho da gente, na Rua Santa Catarina. Em um primeiro momento, parecia apenas um clube e atraiu a curiosidade de todo mundo ao redor. A primeira na família a desvendar aqueles caminhos e começar a frequentar a ACM, foi a Rose. Empolgada com a novidade, comentou conosco sobre a cancha de esportes, sobre a presença permanente de professores, jogos abertos à comunidade e muita gente circulando por lá para fazer amizades.
A Rose sempre teve esse dom, o de fazer novas amizades com facilidade. Ela ia sempre lá para jogar Ping Pong e fez aquela propaganda. Veio também a notícia de que tinha piscina em algum lugar (que não era bem ali) o que já bastou para aguçar a curiosidade de todo mundo.


O Marcus foi logo em seguida, descobrir aquela coisa nova e bem mais perto do que o nosso querido Centro Comunitário Primeiro de Maio. A ACM abriu as portas na distância de meia quadra da casa da Vó Ecilda. Assim, convencidas as mães da importância do assunto, levamos os papéis e fizemos as carteirinhas da Associação Cristã de Moços, o que nos permitiria participar das atividades e frequentar as instalações, jogar nas canchas e ficar por dentro de tudo o que acontecia ali.
Assim, após a chegada do colégio, tirar o uniforme e comer alguma coisa, era imperativo passar a tarde por lá.
Foi ali que, jogando futebol de uniforme azul e com a meia de jogador até o joelho, a Rose me mostrou pela primeira vez o Juarez. Foi através do lance que rolou entre a Rose e o Juarez que ele veio a conhecer o Marcus e que nasceu uma amizade para a vida toda.
O Juarez trouxe uma nova perspectiva para o Marcus, que era de poucas palavras e sempre fechadão. A partir do jeito dele de ver o mundo, o Marcus amadureceu e aprendeu - e ensinou - coisas novas.


Fotos: Juarez e Marcus brincando de fotografia no contraluz na praia do Gasômetro, em Porto Alegre. Juarez Correa Machado Filho - ACM Zona Norte, julho 2011.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Marinheiro fede muito

Desfile Militar da Independência 2011
Aproveito o 7 de Setembro, a data da comemoração da Independência do Brasil, para contar uma história interessante e engraçada que aconteceu na nossa família.
Era a década de setenta, lá pelos anos 72 ou 73. O regime militar no governo do Brasil já operava desde 1964, endurecido ainda mais a partir do Ato Institucional nº 5, de 1968.
A Independência do Brasil de Portugal, o 7 de Setembro de 1822, era largamente utilizada pelo regime para o ufanismo e o estímulo ao “Ame-o ou deixe-o”, do Oiapoque ao Chuí, especialmente via rede Globo.
Mas, claro, nada disso jamais penetrou no imaginário das famílias, alheios que vivíamos a esses conceitos politizados.

O fato é que ano após ano, nós éramos submetidos à rotina da Semana da Pátria nas Escolas públicas. Batia o sinal e todos formavam as filas por turma. Para organizar a bagunça que se formava ali, as professoras ensinavam – quase sempre aos gritos – que deveríamos esticar o braço direito e tocar no ombro do colega em frente. Esse gesto era o de tirar a distância e era o que se seguia até o(a) primeiro da fila, que, coitado(a,) além de ser o(a) mais baixo(a) da turma, ainda não tinha ninguém na sua frente para cutucar. Ato contínuo, os alunos eram obrigados a cantar o Hino Nacional, a plenos pulmões, desde o Ouviram do Ipiranga até o último Pátria Amada Brasil, todos os dias, no pátio, uniformizados e em fila, no início de cada turno da escola.
Havia ainda mais algumas rotinas, as quais poderiam ter alguma seriedade e civismo para os adultos, só que não tinham nenhum significado para nós: uma delas era a sacrificar as aulas de educação física para ensaiar o desfile escolar na formação militar e, a outra, era a de cuidar o fogo simbólico.
Nos primeiros dias, as aulas sacrificadas eram apenas as de (educação) Física, porém, à medida que o dia do desfile ia se aproximando, vários professores eram convidados a ceder os seus períodos de aula para as repetições das marchas ao redor da quadra do Colégio. Assim, sem a menor alternativa, fazíamos as formações em filas e em colunas, no ritmo repetido do “esquerda-esquerda”, “esquerda-direita-esquerda” até que a aula acabasse, ou que chovesse, ou que algum professor mandasse a gente parar de marchar.
De tudo isso, o que não tinha o menor sentido – mesmo – era o tal de “Fogo Simbólico”. Acontecia de um professor interromper a aula da gente e chamar dois alunos, normalmente um casal, para ficarem parados no pátio, de pé, em posição de sentido, ao lado de um pilar de cimento que tinha uma latinha em cima com fogo dentro. Era isso. Simples assim.
Ali a gente ficava por alguns minutos, às vezes um ou dois períodos inteiros (perdíamos a noção do tempo), sem a menor idéia de o que era aquilo e do por quê de estarmos ali, cuidando aquele negócio. Essa era toda a nossa noção de civismo. Lembro até hoje de nunca ter entendido como eram feitas as escolhas dos alunos, por exemplo, sob qual critério era formadas as duplas e – principalmente – por quanto tempo. Na boa, acho que ninguém da minha geração jamais entendeu isso. Lembro, também, que a gente aprendeu rapidinho que era possível usar aquele tempo todo para conversar bastante com o colega que estava ao lado e que não era nenhum pecado capital se a gente se sentasse enquanto não tinha uma professora olhando...

Saindo da vida escolar, a Semana da Pátria interferia na rotina das famílias também, lógico. Desde meus primeiros anos de vida, nas manhãs do dia 7 de setembro, a gente sentava em frente à TV preto e branco, única da casa - e que tinha lugar de honra no meio da sala, e ficava esperando o desfile militar.

A TV Globo naquela época transmitia tudo, tu-di-nho. O desfile militar nas capitais dos Estados e na cidade de Porto Alegre, também. O mais bonito, claro, era o desfile militar de Brasília, o qual ia muito além das escolas: havia os Dragões da Independência, os soldados do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Todos muito arrumados, muito iguaizinhos, um fascínio. Eu assistia a tudo com uma hipnose típica de criança e só saía dali após o fim da transmissão. Ah, esqueci de dizer que, á noite, no Jornal Nacional, passava a reprise da transmissão e lá iam as crianças para a sala assistir tudo de novo.
Ocorreu que neste ano aí de cima, eu acordei cedo para ver o desfile e a Lena me deixou sozinha para assistir a parada militar e tocou a fazer as tarefas da casa, passando inúmeras vezes pela sala e olhando para mim e para a TV por cima do ombro.
Numa des as idas e vindas para arrumar a casa, a Lena sentiu uma bruta dor de barriga e, creio que a caminho do banheiro, soltou um reconfortante peido, bem malcheiroso, sem dizer absolutamente nada e saiu de fininho, sem ser percebida.
Ao final da transmissão, saí da sala e fui brincar. (Acredito que tenha esperado para assistir ao filme “Independência ou Morte”, com o Tarcísio Meira no papel de Dom Pedro I, que repetia infalivelmente, todas as tardes do feriado de sete de setembro...)
Naquela noite, claro, na hora da reprise no “Jornal Nacional”, a Lena gritou: “Cristina, vem ver o desfile”.
A cena que se seguiu, então, foi inacreditável: eu entrei correndo na sala e olhei direto para a televisão. Parei e fiquei prestando atenção alguns segundos no que se passava, dei meia-volta e saí da sala a passos rápidos. A Lena, acostumada que estava ao meu olhar hiptnotizado para a parada militar, perguntou: “Cristina, tu não vai ver? Vem ver os marinheiro(s) que tu gosta”.
E eu, já de costas, respondi: “Esse não, mãe. Marinheiro fede muito!”

Foto: Transmissão desfile Independência 7 de setembro, Brasília - 2011.
e Marcus na sala de casa com a TV ao fundo, na Rua Julio Verne, 1972.

domingo, 28 de agosto de 2011

A Vera Regina...


Uma das pessoas que mais marcou as nossas vidas, desde pequenos, foi, sem dúvida, a Tia Vera. Uma das irmãs mais novas, a última que ficou ainda morando com a Vó Ecilda e o Vô Tinto na Assis Brasil, enquanto os demais já haviam saído para suas próprias casas.
Ela não era só uma tia. Era a alegria dentro da casa da Vó.
A Vera Regina tem uma das mais lindas gargalhadas que eu já ouvi. E essa risada costumava ecoar nos corredores da casa a qualquer hora.
As crianças corriam para perto dela, os adolescentes da época - Os Bichos -vinham pedir conselho e trocar uma idéia; e os adultos tratavam de vir conversar até tarde, ali, no quarto das gurias.
Naquele quarto simples, em que ela dormia em uma cama meio-casal, para nós era um grande pedaço do mundo, onde a gente podia sentir o poder dela.
Falo por mim, a Vera é a minha Madrinha, escolhida pela Lena para o meu batismo.
Ah, antes que eu apanhe: a Vera Regina é madrinha da Rosemary, também, ok? E um detalhe: foi escolhida por ela mesma, para a cerimônia de Crisma. (tá bem assim, Odibaí?)
Bem, retornando ao que eu contava:

Minha Dinda, ou, como ela gostava de ser chamada: minha Dindinha queridinha do coração.
A Vera Regina é a melhor amiga da Lena e sempre frequentou a casa dos Feio de Lemos, fazia da nossa uma segunda casa. Por isso sempre a tivemos sempre muito presente. Acontecimentos da vida dela refletiam direto na nossa, e vice-versa.

É importante registrar aqui o quanto a Vera Regina (na tradução: a Verdadeira Rainha, como ela me disse um dia) se mostrou diferente de todo o restante dos irmãos e irmãs.
Desde pequena demonstrou uma personalidade marcante, com opiniões diferenciadas e um certo talento para lidar com as coisas da vida tão destoante dos demais que, na maioria das vezes, era tida como a louca da família.
Quando guria, ela ria bastante desse rótulo.
O fato é que, com cerca de 9 anos de idade, a Vera começou a ter visões. Visões de fatos, acontecimentos, alguns acontecidos, outros por acontecer. Algumas pessoas conhecidas, outras não.
A Vera descobriu, desde pequena, que era uma médium madura, poderosa e bastante desenvolvida. (Aos navegantes: Médium é um termo dicionarizado que significa, de modo resumido, uma pessoa apta a ter comunicações com espíritos, que passa a mediar os contatos entre esse e o outro mundo, invisível para a maioria)

Dessa maneira, segundo ela me contou, sendo de um lar de pai e mãe católicos, sentiu a necessidade, ou melhor, atendeu ao chamado e passou a frequentar a Casa Espírita Paz e Amor. Se não me engano, ajudada pela Dona Helenita, nossa maravilhosa vizinha.
Precisou fazê-lo às escondidas, é claro. Após algumas visitas, foi apresentada ao grande Irmão José Simões de Mattos (para nós, Irmão Mattos) e mudou o curso da própria vida.
A partir desse abençoado encontro, a Vera deu início aos seus estudos da doutrina espírita, das obras básicas de Allan Kardec e começou o aprendizado necessário para disciplinar todo esse conhecimento que ela trazia do berço.
Mais um esclarecimento: existem variados tipos de mediunidade. Algumas pessoas vêem, outras ouvem perfeitamente as vozes dos espíritos, outras ainda sentem determinadas sensações, como revelações que ficam gravadas nos locais em que aconteceram, etc.
A Vera, desde cedo, sentia e convivia com mais de uma dessas manifestações mediúnicas.

E foi dessa maneira que ela soube, desde menina, como seriam algumas coisas na vida dela e nas vidas das pessoas que a rodeavam.
Quando a Lena engravidou do Marcus, ela disse para a irmã quem ele era e como seria (e que não seria fácil).
Quando ela engravidou novamente, a Vera explicou que seria uma menina e que nós nos conhecíamos de muitas outras passagens. Na verdade, em mais de uma ocasião, ela me olhou fundo nos olhos e disse: durante anos eu te esperei nascer, minha amiga.

Numa manhã ensolarada de sábado, entrei no quarto dela e me sentei em uma mesinha que havia bem no centro da peça, coberta com uma toalha e com uma cadeira de cada um dos lados. Sobre a toalha havia um baralho cigano, o qual ela usava para atender algumas pessoas, quando o Vô deixava. Abri o baralho e fiquei lendo as figuras coloridas e interessantes que pareciam mexer tanto com as pessoas que iam conversar com ela. Ela entrou, sorriu, mexeu comigo e me fez algumas perguntas, às quais, supreendentemente, eu parecia ter respondido certo. Ela brincou comigo que ainda era cedo, mas que ela me ensinaria o que sabia.
A bem da verdade, segundo ela me contou, anos mais tarde, o baralho era mais um apoio para as pessoas que vinham consultar... ela fazia a leitura através da voz do espírito que se sentava ao lado e contava tudo o que ela precisava saber...

A Vera acompanhou o nascimento do Marcus e o meu, acompanhou cada passo do casamento da Lena, a separação do casal Maria Helena e Mário Feio de Lemos e testemunhou de perto toda a luta da Lena para criar o casal de filhos e sustentar a casa.

Vamos voltar a essa figura incrível muitas vezes. Por ora, que Deus abençoe nossa amada Vera Regina!

Foto: Vera sorrindo com os dois filhos pequenos, na VARIG

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Paixão pelo Volante, desde a infância

Marcus pilotando na SPASSO


Para quem teve o prazer de conviver com o Marcus e o de sentar ao lado dele atrás de um volante, vai entender perfeitamente o que vamos falar aqui: uma das grandes paixões dele era(é) o automóvel.

Apaixonado desde pequeno pelo Speed Racer, um desenho animado japonês, ele acompanhava o seriado, desde a musiquinha de abertura até a máxima fidelidade, isto é, assistia até o final a todos os episódios, mesmo repetidos.
Para o Marcus, o Mach 5 não era apenas um carro. Ele tinha vida própria e personalidade, poderia interagir com ele. Ele enchia a boca e fala "Mééééétchhhhh cinco"...
Em várias ocasiões, era possível encontrar desenhos do carro do personagem Speed Racer, o fabuloso Mach 5, nos cadernos escolares do Marcus.
Para quem não via o desenho: o carro saltava, andava sobre duas rodas e protegia sempre o piloto de qualquer acidente. Uma perfeição!!!
Ele desenhava super bem e analisava cada detalhe, a ponto de reproduzir muito bem o carro. E não eram poucas ilustrações. Havia desenhos do Mach 5 de frente, de visão lateral, de sobrevoo, da traseira e do próprio cockpit, alguns até do ponto de vista do piloto, com as mãos na direção.
O Mach 5
O carro, indiscutivelmente, levava o Marcus à loucura, sem exageros. Ele tem (teve) o brinquedo Autorama da Estrela, guardado a sete chaves, em perfeitas condições. Nas nossas corridas de velocidade, mesmo que o carrinho dele fosse azul e quadrado, atendia pelo nome de “Mach 5” (o meu era um Porsche vermelho, descobri recentemente).


Ele gostava de dirigir, de estar dentro de um carro e das máquinas, em geral. Não foi difícil a ele se relacionar com os compressores e com a manutenção industrial, quando concebeu e montou a SPASSO Compressores, primeiro apenas um número de telefone e a entrega de peças, depois o aluguel da sala no Centro de Porto Alegre, na Júlio de Castilhos e, por fim, a enorme sede de dois andares na Rua São Nicolau, 903 e aquisição do terreno no Distrito Industrial de Cachoeirinha.

Claro, não se pode esquecer que a presença do Renato Pinheiro foi vital nesse processo. Foi o Renato que despertou nele essa ansiedade de conhecer e mexer nas máquinas e, sem dúvida, foi a ponte do Marcus para Terabítia.

Na foto que ilustra esse blog, além da imagem do próprio herói Speed Racer, como piloto de corridas e do carro, o Mach 5, está o Marcus executando um dos trabalhos mais prazerosos que a SPASSO fez: a manutenção do compressor de uma empresa de brinquedos, simulador de corridas de automóvel.

Um pouco antes de deixar o corpo físico aqui na terra, tive o imenso privilégio de ver o brilho nos olhos dele quando puxei o assunto do então recente lançamento do filme Speed Racer. Foi como um jato de fluido, de energia vital mesmo!. Ele se sentou no sofá, pegou as revistas que eu levei sobre o assunto e tagarelamos alegremente um bom tempo.
Ficou feliz e planejando o dia em que iria ao cinema assistir o filme Speed Racer e, também, com a mesma empolgação, ao filme do Homem de Ferro (Ironman).

E nasceu a Carolina... afilhada do Marcus

Casa da família na Avenida Assis Brasil, aparência e moradores atuais - Foto de Juarez Machado

Pouca gente sabe, mas ainda adolescente, aos 13 anos, o Marcus ganhou a responsabilidade de ser padrinho de um nenê novo na família. Em 15 de agosto de 1977, no meio do inverno gaúcho, nasceu a Carolina da Silva Pinheiro, filha do Renato Pinheiro (grande figura na vida do Marcus) e da Vera Lúcia da Silva Pinheiro.

Para quem viveu e só para quem ouviu falar, cabe relembrar: a casa da Vó Ecilda, na Avenida Assis Brasil, 911, foi uma conquista do Seu Joventino, lá na década de 50 e passou a ser um ponto forte de união do clã Pinheiro.

Como é bastante comum nas famílias brasileiras, o patriarca e dono da terra – no caso o Seu Pinheiro, chamou para perto os filhos e filhas que, já casados e com filhos, não tinham sua casa própria e passaram a morar no mesmo pátio.

Na tarde fria do dia 14 de agosto, a Vera Lúcia deu baixa no Hospital Nossa Senhora da Conceição, e chegou a notícia do nascimento do nenê. Naquele tempo, o sexo do bebê só era conhecido no nascimento, e nasceu uma menina: a Carolina.
Uma alegria para todos, aquela bonequinha de pouco mais de 40 centímetros, ficou uns dias ainda no hospital antes de vir para o IAPI.

A Carolina foi batizada em casa e teve o privilégio de ser apadrinhada pela Rosemary e pelo Marcus. Formalmente, ou seja, religiosamente, era afilhada do Vô e da Vó (é isso, né Carol?)

A casa da Assis Brasil – como era
Uma casa modelo do IAPI, construída e entregue pelo próprio Getúlio Vargas aos trabalhadores da época, pelo critério do número de filhos. Era composta de sala, cozinha, banheiro, três dormitórios, área coberta e um amplo depósito no pátio, em um terreno bastante grande em relação aos padrões de hoje.
Esse blog já referiu http://marcusfeiodelemos.blogspot.com/2011/05/casa-dos-pinheiro-em-porto-alegre.html, que o Vô Joventino fez uma escolha na entrega das chaves. Escolheu a melhor casa, sem o espaço de garagem, mas recebeu a compensação de um terreno de 50 metros de comprimento, com 25 metros – acho – nos fundos.

Para abastecer o fogão à lenha da Vó Ecilda, o estoque de tocos de madeira, de gravetos e galhos era a casinha da lenha, uma casa muito bonitinha, construída sob encomenda e com muito amor pelo Tio Saul para atender as necessidades de sua mãe. Essa casa foi instalada bem lá nos fundos do fundo, atrás até da casa do Pelé, um dos primeiros cães Dobermann que viveram por lá. (Sobre esse carinho especial entre mãe e filho, que havia(há) entre a Ecilda e o Saul, esse blog vai tratar em outras postagens, ok?)

O Cortiço

Vista da Assis Brasil, a casa, de três dormitórios, era do vô e da vó. Contudo, a partir da porta dos fundos, o quintal foi mudando, ano a ano. Primeiro a Sônia, filha mais velha – entre as mulheres – e segundo a Lena: a “queridinha do Vô Joventino”, incorporou o quartinho dos fundos que existia e construiu uma casa completa, no meio do pátio.
Depois, o Renato, filho mais novo e boêmio desde guri, ainda morava com os pais. Quando a paixão pela nova namorada bateu forte, o Renato trouxe a Vera Lúcia para morar com ele. Em um primeiro momento, enfrentou os narizes torcidos dos irmãos e trouxea namorada para morar com ele no “quarto do meio”, ou quarto dos guris, dentro da casa da Vó.
Acredito que tenha sido um pouco pressionado pelos demais, mas o fato é que construiu umas peças no fundo do pátio, colocando para o lado a casinha da lenha e passou a morar ali com a nova família.

Convidada por último, a Lena mandou construir mais duas peças e recebeu os dois quartos que o Vô e a Vó não utilizavam para serem um quarto e sala. A fachada da casa ganhou uma porta lateral e nasceu a casa dos Feio de Lemos – ou seja, a Lena veio morar com os dois filhos, ato que repercutiu muito na vida do Marcus.

Foto: Cortesia do fotógrafo e grande amigo do Marcus, Juarez Machado